terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

1.Quem nasceu no sertão como eu nasci
Viu moagem como eu vi com um boi puxando
E a madeira do engenho ranger chorando
E bebeu da garapa que eu bebi
Não se esquece como eu nunca me esqueci
Das vasilhas, dos tachos, do fogão
Dos bagaços de cana pelo chão
Chega o doce na boca dá saudade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

2.Quando o caldo no fogo engrossava
O meu pai separava para mim
Um bocado pra fazer um alfenim
Numa vasilha a parte ele deixava
Quando estava mais frio ele puxava
Que ficava “branquim” feito algodão
Eu fazia uma rosca com a mão
E guardava pra levar para cidade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

3.Quando a seca no sertão tudo arrasava
E os meninos já não tinham o que comer
Nem a mãe sabia mais o que fazer
O alimento do pobre se acabava
Num bisaco na parede inda restava
Misturada com farinha a solução
Da família do pobre a salvação
O alimento perfeito em qualidade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

4.Rica em cálcio, em ferro e vitamina
Em açúcar uma fonte de energia
Ideal pra comer durante o dia
Contém fósforo, potássio e proteína
Bom pra velho, pra menino e pra menina
Pra mulher na menopausa ou gestação
Pra quem tá com muita fome com feijão
Ou raspada com cuscuz mata a vontade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

5. Nordestino antes de tudo é muito forte
Essa fama se ouve até no estrangeiro
Quando querem contratar um brasileiro
Lhe perguntam primeiro se é do norte
Ninguém sabe o porquê da nossa sorte
Mas explico em poucas linhas a razão
Quem comeu rapadura com feijão
Sai do mato e é respeitado na cidade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

6.Hoje a indústria fabrica a rapadura
Põe produtos pra ficar mais atrativa
Amarela, cor de rosa ou verde oliva
Com corantes ou qualquer outra mistura
Hoje em dia não se come mais tão pura
E a pior é a do tipo exportação
Pois na boca se desmancha como pão
Chamar isso rapadura é até maldade
RAPADURA, RAPADURA DE VERDADE
EU COMI QUANDO CRIANÇA NO SERTÃO

Djalma Marques

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Fazendo aqui uma pausa e supondo que o texto acabaria aqui, muito provavelmente você perguntaria: " Mas então não falas da liberdade de escrever?" ou algo assim do género, no qual eu respondiria " Se sois livre para escrever, escreve o que queres, além do mais que a opinião é tua, ora essa".