sábado, 13 de abril de 2013

Preconceito diminui, mas ainda persiste


Preconceito diminui, mas ainda persiste

Tatuagens e piercings já não causam tanto estranhamento, mas pode ser um diferencial negativo profissional
Foi-se o tempo em que tatuagens eram sinônimos de coisa de marginal e piercings, de rebelde. Mas até que ponto essa popularização, e mesmo aceitação, das modificações corporais foram transmitidas para o mercado de trabalho?
Em áreas ligadas às artes e às ciências humanas, é mais comum encontrar profissionais com os corpos desenhados, orelhas alargadas e rostos perfurados por piercings. Ainda assim, entretanto, modificações mais extremas, ou mesmo um grande números, das tidas como comuns, ainda são motivos de olhares tortos.
Nas profissões mais tradicionais, então, como medicina, engenharias e direito, a situação fica ainda mais complicada. Para o engenheiro elétrico aposentado Ubirajara Castanha, esse geralmente não é o perfil de quem trabalha na área. “Em áreas mais conservadoras, como engenharia, é difícil ver gente assim. Em outras, artísticas, como arquitetura, é mais comum”, acredita.
Ainda assim, o engenheiro elétrico não conseguiu impedir que a filha caçula, a estudante de direito Maria Carolina Castanha, de 23 anos, colocasse três brincos em cada orelha, um piercing no nariz e um no tragus, na orelha, além de cinco tatuagens. Para Ubirajara, a jovem já passou dos limites. “Direito é uma área conservadora, então já falei que se, por exemplo, ela for em uma audiência, tem que tirar os piercings, porque as pessoas podem ver de uma forma negativa. Não vai ser ela quem vai mudar a cabeça dos outros, então a única prejudicada será ela”, conta.
A jovem, que atualmente estagia no setor jurídico de uma grande empresa, já precisou se adaptar aos padrões estabelecidos no local de trabalho e mudou a jóia do piercing no nariz de uma argolinha para uma pedra mais discreta. Além disso, sempre se veste de maneira que as tatuagens não fiquem à mostra.
Para a psicóloga e consultora em recursos humanos Germana Jácome, que há 16 anos é sócia Busccar Consultoria, além da questão do perfil da área em que se trabalha, a função exercida pelo profissional determina muito a aceitação do adorno. “Nas funções mais externas, que tratam com o público, é mais complicado, porque os clientes podem ter preconceito e aquela pessoa vai estar representando a cara da empresa”, conta.
Por isso, recomenda que candidatos a vagas de emprego sempre cubram as tatuagens e tirem os piercings, independente da área de atuação pretendida. “Alguns dos meus clientes, quando fazem um processo de seleção, determinam até a altura média do candidato, então ter uma aparência muito fora do comum pode ser um ponto negativo”, analisa Germana.
Ubirajara acredita que situações do tipo são possíveis de acordo com a maior ou menor oferta de profissionais qualificados. “Quando se tem mão-de-obra sobrando, pode-se ser mais exigente, e até os preconceitos podem entrar nos critérios de seleção. Quando se falta mão-de-obra especializada, a capacidade profissional  é o fator determinante na escolha”, completa.
TAPETE PERSA – Prova disso é o coordenador da tecnologia da informação da Construtora Noberto Odebretch Guilherme Araújo, 30 anos, que possui 11 tatuagens, duas delas cobrindo seus antebraços. Apesar de não ter completado o ensino superior, a experiência profissional fez com que ele fosse convidado a integrar a equipe de tecnologia da empresa. “No início eu tinha que ir de camisa de manga longa, e sempre abotoada. Depois, o que prevaleceu foi a competência.”
Suas tatuagens, na verdade, lhe renderam o apelido de “tapete persa”,  como é conhecido na empresa. “Acho que isso quebrou um pouco o gelo. As pessoas perguntam: tapete persa?’ e as outras dizem ‘é, aquele menino todo tatuado do Recife’”, diverte-se. “É um diferencial”, acredita.
Tatuagens grandes e visíveis também fizeram com que a estudante do último semestre de engenharia química, Danielly Lima, 23 anos, se destacasse, mas não de uma forma positiva. Ainda sem experiências no mercado de trabalho, ela sentiu o preconceito dentro da própria universidade. Com desenhos coloridos que tomam boa parte de suas duas pernas e orelhas alargadas em 10 milímetros, a jovem, que será a laureada da turma, conta que uma das professoras do curso chegou a dizer acreditava que ela era uma aluna mediana por conta das tatuagens. “Ela achava que eu tirava notas ruins só porque tinha tatuagens, alargadores e não me vestia formalmente”, conta.

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Fazendo aqui uma pausa e supondo que o texto acabaria aqui, muito provavelmente você perguntaria: " Mas então não falas da liberdade de escrever?" ou algo assim do género, no qual eu respondiria " Se sois livre para escrever, escreve o que queres, além do mais que a opinião é tua, ora essa".